(Sim, sei, vocês não sabem de que estou falando porque a beleza desapareceu há muito tempo. Ela desapareceu sob a superfície do barulho - barulho das palavras, barulho dos carros, barulho da música - no qual vivemos constantemente. Está submersa como a Atlântida. Dela só restou uma palavra cujo sentido é a cada ano menos inteligível.)
[Milan Kundera]

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Mainardi, o Lula é sua anta.

Caro Mainardi,

 

são interessantes as críticas que você faz ao Presidente Lula e ao seu governo, assim como o é boa parte das colunas que você escreve. Nunca neguei que você fosse competente em relação ao que faz com mais freqüência, e não pretendo fazê-lo agora. Nas próximas linhas, irei criticar somente as palavras que você disse acerca de Dom Casmurro, o romance do genial Machado de Assis e a microssérie Capitu, de Luis Fernando Carvalho. Palavras estas com as quais não concordo em absoluto. Comecemos pela coluna.

Transcreverei partes de seu texto aqui, para que possamos raciocinar juntos.

 

Na série, Bentinho aparece estranhamente caracterizado como Dick Vigarista, do desenho animado Corrida Maluca: nas roupas, no bigode, na magreza, no temperamento e, acima de tudo, na canastrice do ator que desempenha seu papel.

O homem que aparece na série e a quem você critica a caracterização não é Bentinho, é Dom Casmurro, e há aqui uma diferença importante. Sua crítica seria cabível se Bentinho fosse caracterizado de maneira assim caricatural, mas Dom Casmurro é assim, ao menos em seu interior. É um homem que vive isolado da sociedade, preso ao passado, amigo de prostitutas e que precisa “reatar as duas pontas da vida” e tenta-o de diversas maneiras, não obtendo sucesso, é um homem que só falhou. Foi, pensa, traído, seu filho vive, por seu esforço, longe dele. Não é um homem como os outros de sua época, não tem parentes vivos nem amigos que lhe sejam queridos, mergulhou na melancolia e na descrença de um velho decrépito e decepcionado com a vida. É natural, portanto, que numa microssérie feita à maneira de teatro, retrate-se o lado psicológico das personagens, inclusive em suas roupas.

 

É Bentinho imitando Arrelia no picadeiro de Fausto Silva: "Como vai, como vai, vai, vai? Eu vou bem, muito bem, bem, bem".

De fato, embora você tenha tentado fazer uma crítica por pura ignorância das características mais sutis de Bentinho, fez um elogio profundo à adaptação. De fato, a personagem foi ridicularizada, e não é para menos. Bentinho é um menino que, aos quinze anos, não sabe a diferença dos sexos e repete, na velhice, que muitos aos dezessete não o sabem. Por puro bom senso, sabemos que isso não foi verdade nem no tempo de Machado de Assis. Mas Bentinho é criança ainda na adolescência, e adolescente ainda na velhice, é natural e bom que seja ridicularizado, ele é genialmente ridículo.

 

No livro Dom Casmurro, o relato de Bentinho é espantosamente seco e desencantado. Ele narra sua história apenas para combater o tédio: sem drama, sem sentimentalismo, sem teatralidade.

Desencantado sim, já vimos porque, mas não no sentido que você atribuiu. Mas seco, não. Dom Casmurro faz paralelos com filosofia, teatro, poesia e religião. Não chame isso de secura, mas analisemos um pequeno, simples e sem importância trecho da obra, somente pelo seu valor estético:

 

“Não é que prima Justina fosse de biocos; dizia francamente a Pedro o mal que pensava de Paulo, e a Paulo o que pensava de Pedro; mas confessar que mentira é que me pareceu novidade. Era quadragenária, magra e pálida, boca fina e olhos curiosos.”.

 

Isto não é secura, não é economia de palavras. E o que você diz em seguida é ainda mais mentiroso e mal embasado. Dizer que D. Casmurro escreve para combater o tédio é o mesmo que dizer: “O lobo mau só se vestiu de velhinha porque gostava da fantasia”. Isto é o que Casmurro nos diz, não é o que deixa escapar e nem é a verdade pura, você teve a infelicidade de ser incrivelmente simplista nesta análise.

 

Foi então que os bustos pintados nas paredes entraram a falar-me e a dizer-me que, uma vez que eles não alcançavam reconstituir-me os tempos idos, pegasse da pena e contasse alguns. Talvez a narração me desse a ilusão, e as sombras viessem perpassar ligeiras, como ao poeta, não o do trem, mas o do Fausto: Aí vindes outra vez, inquietas sombras?...

 

Sem teatralidade, não é? Está bem, isso eu não discuto, Assis lhe desdisse por mim. Mas a passagem acima joga sua argumentação barata facilmente para escanteio. Se Dom Casmurro escreve somente por tédio, de onde vem a observação “Talvez a narração me desse a ilusão, e as sombras viessem perpassar ligeiras”. É casual, certo? Puro acidente narrativo, se não me engano. Mainardi, não seja casmurro ao ponto de achar que seu colega genial é tão inocente.

Como escrevi aí acima, não vou combater o sem drama, sem sentimentalismo, sem teatralidade.”, porque isso, qualquer um que leu o romance, ainda que sem atenção, sabe que não é verdade. Admira que você não o perceba, considerando que, eu espero, você leu a obra.

 

Quando Bentinho descobre que o filho bastardo de Capitu com Escobar morreu de febre tifóide, ele comenta simplesmente: "Apesar de tudo, jantei bem e fui ao teatro".

Gosto de pensar, Mainardi, que o que ocorreu aqui foi uma simples manifestação da sua inabilidade de escolher a palavra certa para o que quer expressar. Dom Casmurro não comenta simplesmente, comenta friamente. E, embora sutil, a diferença entre as duas expressões é grande. Já que você se atreve a criticar o que não conhece, eu ousarei te dar um conselho: releia o que você escreve.

 

A literatura brasileira tem um escritor. Um só.

Não. A literatura brasileira teve vários escritores. Entre eles, Guimarães Rosa e Graciliano Ramos que, cada um à sua maneira, contribuíram muito para a cultura nacional. Concordo, Machado pode ser o mais genial de todos eles, mas não é o único.

 

O que fizemos com ele, nos últimos cinqüenta anos, foi traí-lo com todos os Escobar que apareceram.

O que fizemos com ele, e o que fazemos com todos os escritores geniais, foi analisá-lo e adaptá-lo para diversas linguagens, na tentativa de entender e captar até onde foi sua genialidade e qual a profundidade da sua escrita. Se há erros, eles acontecem em todos os campos do conhecimento e com todos que tentam descobrir alguma coisa, mas traí-lo não. Estudá-lo seria uma palavra melhor.

 

Desde que Helen Caldwell, em 1960, negou o adultério de Capitu...

Verdade, negou. Mas o fez com muito mais base do que você menciona ao reafirmá-lo. Caldwell realizou, no mínimo, um grande trabalho de pesquisa para não só ler, se não toda, boa parte da obra machadiana, mas analisar as personagens e diversos trechos de vários dos escritos de Machado e também de diversas outras obras de teatro, poesia e religião. Não foi com base em menos que escreveu “O Otelo Brasileiro de Machado de Assis” e, se o livro é aceito até hoje por tantos especialistas em Machado como sendo uma importante análise de Dom Casmurro, é por ter muito de certo e aceitável, muito de influente e muito de revolucionário. Iniciativa ousada e talvez, não se sabe, errada, mas de todo modo, importante e extremamente influente. Deixe que autoridades em literatura maiores que a escritora critiquem seu trabalho.

 

A série Capitu festeja o abastardamento da obra machadiana. Machado de Assis sabe bem: de agora em diante, isso só pode piorar.

A minissérie festeja a possibilidade de levar ao conhecimento de uma maior quantidade de pessoas um pouco da obra de Machado e, quem sabe, incentivar muitas pessoas (como ocorreu com a criança de 11 anos, filha de um professor meu de Geografia) a lerem sua obra. Muitos não lêem Machado por não gostarem ou não entenderem. Muitos não lêem por faltar a apresentação formal e por não se ter contado a elas que o maior escritor da literatura brasileira pode ser divertido.

Duvido muito que Machado pense que isso só pode piorar, já que, por uma das pouquíssimas vezes que isso aconteceu, vi uma excelente adaptação para televisão de uma das melhores obras literárias do Brasil e, segundo Harold Bloom, do mundo.

Agora, ao Podcast.


É complicado começar a criticar o Podcast porque você se baseia nas palavras de um excelente – e misterioso – contista, cujas palavras eu não quero criticar. Mas a professorazinha do conto de Trevisan não está de todo errada em colocar em dúvida a suposta traição do livro.

 

O romance só faz sentido com o adultério. Sem ele, é um mau romance. Ou, citando mais uma vez Dalton Trevisan: "Se a filha do Pádua não traiu, Machadinho se chamou José de Alencar."

O sentido do romance é independente do adultério. Não o seria se Machado fosse um escritor completamente realista (falando aqui sobre a escola literária), que se prende a traições, incestos, quebras de celibatos, enfim, temas recorrentes na segunda fase de Eça de Queirós, por exemplo. Mas Assis é maior que o realismo, é vezes superior à crítica barata feita pelos realistas/naturalistas. Incluo na crítica barata os grandes escritores realistas, como Tolstoi em Anna Karênina, ou Flaubert em Madamme Bovary, ou Eça de Queirós em Primo Basílio.

Machado de Assis consegue fazer um romance interessante mesmo sob o suspense da traição, mesmo tendo um final não conclusivo. São poucos os que conseguem e poucos os que entendem a existência do suspense finalizando a obra. Um outro professor meu disse, na primeira aula do ano: “Ninguém gosta do que não entende”.

 

Desde 1960, quando a brasilianista Helen Caldwell publicou um estudo sobre "Dom Casmurro", difundiu-se estupidamente a idéia de que Bentinho é um narrador suspeito.

Mainardi, todo narrador não onisciente é suspeito. Porque toda narrativa em primeira pessoa não onisciente é subjetiva, se há exceção, não conheço. Até mesmo Zé Fernandes – do romance A Cidade e as Serras, do Eça – é subjetivo e impõe suas opiniões. A diferença reside no fato de Zé Fernandes ser um narrador sem importância, não ser o centro da própria narrativa. Por vezes, quem conta um conto, aumenta um ponto. Quando o conto é sobre si mesmo, usualmente aumenta-se dois. Existe até a possibilidade de ser essa a crítica de Machado, mas é um palpite fraco e dispensável. O fato é que Caldwell tornou complexa a leitura de Dom Casmurro não porque o quisesse complicar, mas porque o entendeu em profundidade.

Se Capitu traiu ou não traiu não interessa, entende? Por mais que seja divertido discutir, não interessa. O ponto todo é que não se pode ter certeza, e reforço, o narrador não é o Bentinho, esse era um adolescente que não sabia a diferença entre os sexos. O narrador é Dom Casmurro, um velho solitário que recebe frequentemente prostitutas e nunca sai de casa... Não é bem o homem em cuja palavra eu acreditaria sem pestanejar.

 

O problema dessa idéia é o seguinte: desconfiar de Bentinho significa desconfiar de Machado de Assis.

É, é. E o personagem e o autor são sempre a mesma coisa, certo? Só um acervo de leituras muito pequeno pode formular esta conclusão, Mainardi. É o mesmo dizer que ou Machado escreveu Memórias Póstumas de Brás Cubas depois de morto ou Brás Cubas é um mentiroso e Machado também. Não é isso, Cubas é uma personagem e Memórias é uma ficcção, assim como Dom Casmurro. Por favor, não cometamos o erro primário de confundir criador e criatura.

 

Bentinho - o Bentinho de Machado de Assis - é um narrador perfeitamente ponderado. Os fatos relatados por ele pertencem a um passado remoto. Ele descreve os eventos de sua vida com um distanciamento absoluto.

“Agora, por que é que nenhuma dessas caprichosas me fez esquecer a primeira amada do meu coração? Talvez porque nenhuma tinha os olhos de ressaca, nem os de cigana oblíqua e dissimulada”. Se isto não é uma declaração de amor, o que é? Por que, se há distanciamento e o passado é tão remoto, ele não amou a nenhuma outra? Por que, se os olhos de ressaca de Capitu são passado sem importância, impedem o narrador de se apaixonar novamente? E se são importantes, se isso é uma declaração de amor, ou de saudade, não há distanciamento absoluto. A emoção não permite tal distanciamento.

 

Seu ciúme desapareceu completamente. É só uma lembrança longínqua.

Quando sobre as despesas pagas por ele, do enterro do filho: “Pagaria o triplo para não tornar a vê-lo”. E depois: “Quando seria o dia da criação de Ezequiel?”. Se o ciúme é uma lembrança assim longínqua, porque tanta raiva? Se não há sentimento, não há motivo para aversão.

 

O Bentinho do tempo presente, que narra em primeira pessoa, sabe dizer o que é realidade e o que é fantasia.

Como qualquer narrador em primeira pessoa, Dom Casmurro (volto a frisar, o narrador é o velho solitário, não o adolescente que não diferencia os sexos) sabe dizer o que é realidade e o que é fantasia sob sua ótica. O mesmo faz o homem que conta a Conversa de Bois, que lhe foi contada por um cachorro do mato, para o narrador do conto em Sagarana, do Guimarães Rosa.

A realidade do narrador sempre é narrada por ele, como acontece em qualquer situação do dia a dia. Este caso é diferente dos contos narrados por Machado, nos quais ele faz o julgamento acerca das personagens. Dom Casmurro é o narrador de sua própria vida e, perdendo tudo e todos os que teve, não quer perder a boa imagem, que lhe resta por pouco.

 

Com o passar dos anos, sua mágoa e seu desespero se transformaram num estranhamento irônico.

Novamente sou eu que pergunto: se o último parágrafo da obra não é um desabafo dolorido e uma tentativa árdua de transformar em frieza sua auto piedade, o que ele é?

 

Bentinho resolve escrever suas memórias por tédio, para tentar ocupar o tempo. Em nenhum momento ele parece querer acertar as contas com Capitu.

Do tédio já conversamos antes, vamos ao acertar contas.

De fato, Dom Casmurro não quer acertar contas com Capitu, já o fez. Mandou-a para a Europa, isolou-a dos conhecidos, não a visitou nem respondeu suas cartas. Acertara todas as contas com Capitu quando começou a escrever sua obra, Dom Casmurro. As contas a acertar são consigo (“mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo.”) e com seu passado (“Deste modo, viverei o que vivi...”).

 

Depois de terminar "Dom Casmurro", ele se prepara para escrever outro livro: uma história dos subúrbios. Essa é a chave para compreender o romance. Olhando para trás, Bentinho se dá conta da mesquinharia de sua vida, de sua sociedade, de seu tempo.

Uma outra visão possível e, pela quantidade de especialistas que a apóiam, mais provável. É que olhou para a obra que tinha pronta e deu-se conta: “Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui”, como disse no início do livro ao se referir à casa. E tenta mais uma vez, a terceira, retornar ao passado por meio da História dos Subúrbios.

 

O que, no passado, tinha um aspecto mítico, como o adultério de Capitu, revela agora toda a sua miudeza.

Não é assim, Mainardi. Na última página do livro, Dom Casmurro frisa uma passagem das Eclesiastes, um dos livros do Velho Testamento bíblico, demonstrando em seguida que não morreu a certeza de que era justo seu ciúme e logo depois declara, com fina e saborosa ironia: “A terra lhes seja leve!”.

 

No auge de sua loucura, Bentinho se compara a Otelo. Mas o paralelo com o herói shakespeareano é usado por Machado de Assis apenas como contraponto para ridicularizar seu protagonista. Otelo está para Bentinho assim como os heróis dos romances de cavalaria estão para Dom Quixote.

É possível e, se for assim, toda a leitura de Dom Casmurro deve ser analisada mais uma vez, pois a obra é inteiramente uma ironia. Bento Santiago parece-se o tempo todo com Otelo, por vezes com Iago, com muito mais seriedade do que Quixote se assemelha à um herói. Cervantes desenha o Cavaleiro da Triste Figura, no caso de Dom Casmurro, é ele próprio que se constrói e narra, desenhando um homem que tenta dizer que venceu, que está bem, mas deixa escapar que falhou, errou e perdeu.

Não é possível comparar a intertextualidade existente em Dom Casmurro com a escandalosa, mas muito bem feita, ironia de Miguel de Cervantes.

  Capitu traiu Bentinho. E ela traiu porque Machado de Assis, em "Dom Casmurro", tinha um propósito: transmitir o legado de nossa miséria.

Ou Capitu (não) traiu Bentinho. E ela (não) traiu porque Machado de Assis, em “Dom Casmurro”, tinha um propósito: escrever um dos melhores livros da literatura brasileira indo muito além dos banais escritores do Realismo simples de sua época e envolvendo maus leitores na certeza de inocência ou culpa da vilã-heroína da obra.

 

Mainardi, continue escrevendo sobre o Lula, isso, aparentemente, você faz bem. Ele é sua anta. Luis Fernando Carvalho não, nem Helen Caldwell, nem Machado de Assis.

 

Atenciosamente,

Gabriel Salomão.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Dos pepinos


Um pepino não é uma coisa espiritualizada, e não se torna, não importa o que se faça. Uma orquídea é firme sem importar sua sutileza ou a espessura do caule, e não importa a cor da flor, é sempre esbelta. Um cristal de rocha é sempre uma nuvem in vitro, não importa sua transparência de vidro ou sua brancura de lua (cheia, que quanto mais velha é a lua mais branca fica, como acontece com os cabelos).

A orquídea e o cristal, porém, tornam-se espiritualizados no contexto adequado. Os pepinos não. Havendo contextos perfeitos, o pepino ainda é feio e, havendo saladas perfeitas, por agradável que seja, o pepino é secundário. Importantes são o alface e o tomate. A beterraba, por sua cor, vence no gosto ou no desgosto e o rabanete, mais pelo contraste entre sua sensualidade exterior e seu interior branco, puro e iluminado, ganha, na lembrança, do pepino.

Desimportante e secundário, absolutamente vivente enquanto vegetal, o pepino se doa sem luta, sem resistência nenhuma. É quase pedra, mas porque é vivo é muito menos eterno. Não é uma coisa espiritualizada de maneira nenhuma, o pepino. Mas vai existindo e não some. Deixam-no existir porque não atrapalha os outros vegetais, não impede a soja ou o feijão e por isso pode estar no mundo. Sem querer, conquistou um espaço que quase não lhe pertence.

Mas não entra na cozinha com ares de importância. A rúcula, quando chamada, atende como rainha, altiva e amarga. O pepino é vassalo e servo a um só tempo e mesmo na salada de pepinos é secundário aos seus iguais. Problemas sérios de auto-estima nunca se negou que tivesse.

Mas talvez esteja neste anonimato, neste altruísmo irresistente, toda a superioridade do pepino em relação às outras verduras e, talvez, a todos os outros seres – à exclusão das pedras que, como já se disse, são perfeitas e eternas por não serem vivas.

E vão-se as borboletas e os conhecidos. Ficam, espero, as pedras, por eternas, os amigos, por amados e os pepinos, por insignificantes.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

E livrai-nos do mal, amém.

Eu quero entender o que é que uma mulher pode aprender.

Uma mulher que passa por coisas piores que as outras mulheres.

Uma mulher que vira mulher antes de querer.

Uma mulher que é virada mulher.

Virada.

Uma mulher que não quer virar mulher.

Uma mulher que fazem virar mulher.

Mulher.

Uma mulher que é mais forte que quase qualquer outra mulher.

Qualquer.

Uma mulher que merece viver e amar como outra qualquer do planeta

O que é que essa mulher precisa aprender?

Uma mulher que, meu Deus, é tua filha.

Uma mulher que é uma filha, uma amante e uma amiga.

Uma mulher que é muitas e tem a força de várias.

Uma mulher que mantém o sorriso no rosto, sob as piores situações.

Que brilha, estrela, em céu com nuvem escura.

O que é que uma estrela merece por uma nuvem passar por ela?

Ela não queria a nuvem, ela tentou brilhar.

A nuvem não deixou, a nuvem passou por ela, impiedosa.

E ela, no lugar de apagar, brilhou.

Brilhou forte e fez questão de encantar aos olhos de quem olhava para ela.

Brilhou mais que muitas, muitas outras estrelas.

Depois da nuvem, era mais forte e poderia brilhar mais.

Não fosse seu medo de que o brilho dela a ofuscasse a ela mesma.

Estrela, fecha os olhos e brilha, e faz o Sol nascer em ti.

E livrai-nos de todo o mal.

Amém.

domingo, 27 de julho de 2008

Da laia do Lama

(Totonho Villeroy)

Eu sou da laia, da laia, do lama, da laia
Da lama, do lado de cá
Mas tô muito afim dessa dama
Eu quero o nirvana agora, já

Depois que Deus fez a terra
Esculpiu no barro os ossos de Adão
Retirou a parte mais bela
E fazendo a mulher inventou a paixão
Ao criar essa tal divisão
Fez o homem mover a engrenagem da história
Pra curar sua solidão e salvar sua Helena de Tróia

Mas se o homem é de barro
Cuidado com o andor, esse santo não pode quebrar
Já diria o provérbio de raro valor
Quem tem pressa vai devagar

Eu sou da laia, da laia, do lama
Da laia, da lama, do lado de cá
Mas tô muito afim dessa dama
Eu quero o nirvana agora, já

Fui descer ao porão da matéria
Beliscar alimento pagão
Revolver a humana miséria
Religar minha religião
Com os pés enterrados na lama
Busquei claridade na escuridão
Fiz o meu coração em pedaços
Colei os meus cacos e me sinto são

Pois se o homem é de barro
Cuidado com o andor esse santo não pode quebrar
Já diria o provérbio de raro valor
Quem tem pressa vai devagar
Eu sou da laia...

Eu sou da laia, da laia, do lama, da laia
Da lama, do lado de cá
Mas tô muito afim dessa dama
Eu quero o nirvana agora, já

Depois que Deus fez a terra
Esculpiu no barro os ossos de Adão
Retirou a parte mais bela
E fazendo a mulher inventou a paixão
Ao criar essa tal divisão
Fez o homem mover a engrenagem da história
Pra curar sua solidão e salvar sua Helena de Tróia

Mas se o homem é de barro
Cuidado com o andor, esse santo não pode quebrar
Já diria o provérbio de raro valor
Quem tem pressa vai devagar

Eu sou da laia, da laia, do lama
Da laia, da lama, do lado de cá
Mas tô muito afim dessa dama
Eu quero o nirvana agora, já

Fui descer ao porão da matéria
Beliscar alimento pagão
Revolver a humana miséria
Religar minha religião
Com os pés enterrados na lama
Busquei claridade na escuridão
Fiz o meu coração em pedaços
Colei os meus cacos e me sinto são

Pois se o homem é de barro
Cuidado com o andor esse santo não pode quebrar
Já diria o provérbio de raro valor
Quem tem pressa vai devagar
Eu sou da laia...

Tudo igual

Salomão

De agora em diante, nada vai ser ruim.
De agora em diante o dia vai nascer uma da tarde
As aulas começarão duas da tarde e ninguém vai chegar atrasado.
De agora em diante todo professor é legal e toda matéria interessante.
De agora em diante os amores serão todos correspondidos.
(convenhamos que eu bem podia parar por aqui
mais da metade dos problemas do mundo estaria resolvida).
De agora em dianta não há fome
Não há trição
Não há assimetria
De agora em diante não há mau humor
Não há piada sem graça
Não nenhuma comida fria, a não ser pizza no café da manhã.
De agora em diante meu despertador está quebrado.
De agora em diante o ônibus não demora.
De agora em diante não tem um mal educado sentado ao meu lado
No ônibus que não demora.
De agora em diante não chove quando estou sem guarda chuva.
Os ingressos não se esgotam antes de eu comprar o meu.
De agora em diante não tem cabeças na minha frente no cinema.
De agora em diante eu não presenciarei cenas proibidas
Para menores de 18 anos nas salas dos filmes livres.
De agora em diante as mãos que quero segurar anseiam pelas minhas.
E nem tenho mãos que quero segurar.
De agora em diante as escadas do meu colégio não têm mais de...
Três degraus por lance.
De agora em diante pessoas bonitas, inteligentes e simpáticas não pisam nas outras.
De agora em diante só se fala mal pelas costas de quem não se elogia pela frente.
De agora em diante, o metrô estará sempre vazio.
De agora em diante não haverá poças para os carros passarem por cima
Jogando água nos pedestres.
De agora em diante todo mundo que está lavando calçada vai perceber quando eu passar
E vai desviar a água.
De agora em diante toda vez que eu acreditar em alguma coisa, a coisa é.
De agora em diante tudo que quisermos é nosso e tudo o que não quisermos ficará longe.
A porta da rua é serventia da casa.
De agora em diante gente burra vai sentir dor cada vez que abrir a boca.
E gente inteligente vai aprender a só falar quando necessário.
De agora em diante tudo vai ser igual, mas eu vou ver diferente.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Me leva, me leva!

Me olha de lado, estranha fagueira, tal qual fogueira vermelha pimenta.

Pimenta vermelha que arde que dói, mas que dá prazer e ajuda na vida.

Menina pimenta, boca vermelha, menina fogueira, menina e que cor.

Que cor pele branca, que boca bordeaux, que cor que vontade de beijo.

Pimenta, pimenta, vermelha quase paixão do desejo.

Pimenta do doce ardido do beijo roubado,

Pimenta vermelha do vermelho do olho apaixonado,

Pimenta do engano do belo pelo encanto errado,

Pimenta do que eu quase agarro, quase beijo, quase erro, quase quero.

E quero tanto que arde e queima.

Ah pimenta, pimenta. Não seja assim tão vermelhamente bela.

Você me engana, você me agarra e afasta.

Não seja assim tão pouco clara.

Não desperta assim o fogo dos apaixonados.

Me deixa não ser errado,

Ou me queima, e me leva de vez ao erro.

Me leva de vez ao inferno,

Ao inferno lindo de quem escolhe a vida.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Flor de Pedra

E a impressão é a de que me perco de repente. Longe de mais do que eu conheço de mim mesmo. Não sei voltar, não consigo, mas não sei também se existe estrada seguindo em frente. Como disse meu pai que eu corria o risco. O que tinha eu de mim mesmo foi quebrado, mas não me deram nenhuma bengala nova para me apoiar. Não me deram crença nova para seguir nem musa nova para me apaixonar.

Deram-me a opção confusa de uma musa linda atrás de um vidro fosco, através do qual eu pouco enxergo e nada distingo com certeza.

Me tiraram os cavalos que me levavam pelos campos e me deram fogo para andar e um leão que por sobre eles flutuasse, mas sua crina é rápida de mais para minhas mãos e seus movimentos imprecisos de mais para meu olhar. Não sei captar as cores do fogo.

Depois de todo um deserto atravessado, a primeira árvore que encontro tem só flores de pedra, refletoras de luz, secas e fortes, que mostram só o que desejam e que não podem ser abertas, se o forem o que escorre arde de mais e brilha muito para meus olhos, então o botão em pedra se reduz, para que eu não o perceba com certeza, mas exala seu perfume de flor para que eu não deixe de ter impressão de sua presença.

Confuso não sei se tento, se ouso, se indico que quero, é medo. Não consigo dizer mais do que o dito por mim naturalmente, e o dito por mim naturalmente não é o que naturalmente te satisfaz os nervos e a vontade. A sede que rasga e fere, que arde e ri.

Fala pra mim, agora, sem pensar, o que faço e para onde ando, que são teus movimentos, leão, que não entendo e que é que esconde sob as pétalas fechadas de pedra? Quero sim o perfume que sinto, mas quero também o que esconde, o que confunde e aquilo de que não posso saber nem ter certeza.

domingo, 13 de julho de 2008

Olhando pelas lentes da Luz

NÃO QUERO, POR O QUE VAI ABAIXO, NENHUMA OPINIÃO SOBRE O QUE DEVO FAZER, NEM SOBRE COMO DEVO ME PORTAR. NÃO ESTOU COM PENA DE MIM E ISSO É IMPORTANTE SABER. SOU FELIZ E GOSTO DE VIVER COMO VIVO, SINCERAMENTE.
E MENOS QUERO QUE ACHEM QUE SOU SUPERIOR À QUALQUER UM POR QUALQUER RAZÃO, ESTOU APRENDENDO COMO TODOS NÓS, SE FUI COM MAIS SEDE AO POTE, É PORQUE GOSTO E ME FAZ FELIZ, E É SÓ.

Sinto, por vezes, necessidade de ter perto de mim os amigos que tenho. Sinto que quero tê-los perto porque, poxa, eu sempre estou lá quando eles precisam. Quero poder ligar e dizer qualquer coisa, quero ter perto as pessoas que me têm perto entende?

Às vezes penso “poxa, quando eles têm problemas u sou o primeiro a querer ouvir e ajudar. Sou o primeiro a ser Amigo e elogiado, querido. Mas quando não têm problemas, eu fico, e fico, e fico, até o próximo problema surgir”. É bem verdade que se eu os procuro são gentis e fazem me ouvir. Se eu desejo muito vê-los ou digo que tenho saudades, eles correspondem (ou ao menos assim parece pelas suas palavras) e dizem também ter saudade e se colocam à disposição para me verem e serem vistos assim que, em comum, tivermos um momento.

Mas o momento quase nunca acontece. Todo mundo ama um dia, todo mundo chora, um dia a gente chega, no outro vai embora. Eu nunca me acostumo com ir embora, eu não me acostumo com o fato de meus amigos precisarem de mim e eu estar lá para eles e eles estarem lá se eu preciso deles, mas se não nos precisamos é como se não existíssemos.

Mas faz tão triste ter que trabalhar para que uma relação de Amizade exista. Não pode ser assim. Amizade tem que existir sem trabalho, sem necessidade do correr atrás que os amantes têm. Na Amizade tem que acontecer tudo com tranqüilidade, temos sim que estar dispostos ao trabalho de ajudar o amigo sempre que este precisar, mas não podemos ter de ter trabalho para fazer algum elo existir entre nós e os amigos.

Amizade não é Paixão, no máximo um tipo diferente de Amor. Mas se tem nome diferente, é porque é diferente em essência.

Então me lembro que, na verdade, o certo é mesmo eu existir para ajudar as pessoas, não interessando muito se são amigos ou não. Sempre me esqueço. Sempre que não leio o bendito poema de Kipling, esqueço (poema SE). Tenho de lembrar com mais freqüência de que aqueles que Conhecem não podem ter o egoísmo de exigir amigos do mundo. Não podem ter o egolatrismo de achar que estão fazendo muito correndo atrás de um amigo. Não devem correr atrás. Devem sim, antes, estar sempre lá e se fazerem sentir para que ninguém se sinta desabrigado.

Há que se estar embriagado em paz para poder ser assim, não é fácil e é por isso que eu por vezes desisto. É pela gigantesca dificuldade de ser assim que por vezes fico um bom tanto triste e acho que estou recebendo muito menos do que mereço.

Esqueço que a graça das roseiras tem de estar em cultivá-las e não em admirar as rosas. Quando há rosas, as roseiras não necessitam mais de mim. É hora de agradecer em silêncio, sair de cena e deixar as cortinas abertas, caso alguém deseje subir ao palco.

E ainda aprenderei que cuidar de roseiras não pode ser colher rosas.

Se podes encarar com indiferença igual
O triunfo e a derrota, eternos impostores...
Se podes ver o bem oculto em todo o mal
E resignar sorrindo o amor dos teus amores,

[...]

Se vivendo entre o povo és virtuoso e nobre...
Se vivendo entre os reis, conservas a humildade...
Se inimigo ou amigo, o poderoso e o pobre
São iguais para ti à luz da eternidade...

Se quem conta contigo encontra mais que a conta...
Se podes empregar os sessenta segundos
Do minuto que passa em obra de tal monta
Que o minuto se espraie em séculos fecundos, [...]”

Cuidar de Roseiras


“Quem pode, faz. Quem não pode, ensina”.

Li esta frase faz pouco tempo em algum site de citações. Procurando o autor, não encontrei. Se souber me diga depois.

Mas me fez pensar... Principalmente me fez pensar porque eu quero viver de ensinar. Será que eu não sou um dos que podem? Será que eu fui feito para ensinar como se faz e esperar que façam?

Será que eu sou para plantar e cuidar das roseiras, e então ir embora e não ver as rosas nascerem?

Será que eu sou para ajudar pessoas e não esperar nada em troca?

Será que eu sou para construir relacionamentos alheios e ser feliz com eles?

Será que eu sou para não poder e sou para que os outros possam?

SIM, Graças a Deus SIM!

Que eu possa ensinar sempre, que eu sempre possa cuidar das roseiras.

Que eu possa sempre cuidar das roseiras.

Que eu possa sempre cuidar das roseiras!

Ainda que cuidar de roseiras, não seja colher rosas.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Descrição

Olhei e era um céu cinza, um pássaro marrom, um sol com pouco brilho e uma árvore verde como uma margarida sem pétalas. Era água escura, ar cinzento, frio. Era uma senhora curva e de cabelos grisalhos em silêncio subindo uma ladeira e uma criança pobre que foi a ela pedir uma moeda. A senhora deu a moeda. Mais tarde era a criança com a mãe a puxando pelo braço esquerdo. A mãe com roupas de um vermelho quase pálido e um cinza quase negro e morto.

Quando olhei bem era um cachorro vira-lata manchado de cinza e branco. Era seu dono e ele. Ele comia.

Quando olhei com bastante atenção era um pôr de Sol bonito que se veria, não fosse o prédio que me impedia de ver o ator principal da cena. Era um conjunto de nuvens mal iluminadas que conferia toda a beleza daquele fim de tarde, e um arco-íris medroso que não tinha coragem suficiente pra se mostrar com esplendor nem dignidade suficiente para existir sem mostrar-se. Se colocava tímido, o arco íris por entre as gotas de chuva e os poucos raios de Sol. Pobre arco íris ao qual Deus esqueceu de impingir saturação. Saturação é a cor das coisas em linguagem técnica de edição de imagem.

Quando firmei os olhos num ponto do céu porque tive a certeza de que lá aparecera uma estrela, não havia mais estrela porque aquela havia se movido e eu ouvi um trovão. Um barulho, na verdade, que não era trovão. Era a estrela que se moveu que na verdade era estrela cadente. Caiu o avião sobre um conjunto de casas e algumas dezenas de pessoas morreram.

A fumaça, como as casas atingidas, era cinza. A morte, como o amor temido, era cinza. A criança carbonizada, como a grávida por estupro, era cinza. A parede, como a roupa de baixo da noiva, não era mais branca, nem vermelha. Era cinza. E nem o sangue da noiva era mais vermelho, como a roupa de baixo do noivo. Era cinza.

Olhando mais certeiro para um pequeno casebre que não fora atingido pela estrela brilhante e cadente, vi a decadente estrela. Uma moça de seus 19 anos, feia. Cabelos desgrenhados, uma blusa justa de mais para seu corpo fora de forma e um olhar lascivo de mais para seu rosto protuberante de marcas. Um sorriso lascivo que não faria jus ao mais esquecido dos homens. Um sorriso que desviaria o olhar do mais bondoso dos santos.

Não quis continuar olhando a imagem deforme do insucesso, do asco e da lascívia desenfreada. E comecei a mirar uma pomba.

Não era uma pomba branca como poucas vezes acontece na Grande Cidade. Muito menos era um corvo urbano. Era uma dessas que comem os restos de arroz dos empregados que deixam a marmita aberta nas praças. Era uma pomba cinza e simples.

Acompanhei o vôo da pomba que acabou por ter seu fim na beirada de um chafariz que, quando foi feito, devia ser muito bonito. Mas que perdeu seu encano com o tempo. A chuva ácida das cidades e a obra dos vândalos pobres das ruas terminaram com a forma original da construção que hoje, de um anjo cuspidor de água que era, tornara-se um bloco de cimento antropomórfico com um buraco pelo qual saia uma pequena quantidade de qualquer coisa esverdeada. Uma fonte velha. A pomba não sabia do anjo e nem o que significava antropomórfico, e por isso permaneceu na beirada imunda da fonte fazendo algo que eu interpretei como uma grande habilidade de se sujar com muito trabalho. E que ela interpretou como banho.

Perto da fonte e da pomba havia uma menina que pedia moedas para os transeuntes apressados. Ela era forte, mas sua imagem de fraca dava pena. Era pequena com seus nove anos e dormia ao lado da fonte todas as noites. Deixava seu cabelo de um castanho claro preso atrás da cabeça de noite e de dia, com a ilusão de que isso a deixava menos asquerosa, talvez até menos suja.

A garota percebia que os passantes às vezes davam moedas, por puro hábito, mas que não olhavam para ela. E algo dizia a mim que ela trocaria as moedas por um olhar. Mas que olhar, se não o meu de mero examinador, aquela menina pobre e feia conseguiria? Talvez o de algum bem-feitor que insistiria para que ela deixasse as ruas e fosse para uma escola, aprender a ler e a escrever. Mas a garota não precisava ler, nem escrever.

A pequena moça não sabia o que vinha escrito nos pacotes de balas que algumas vezes por semana (quando sobrava dinheiro para o investimento inicial) colocava nos espelhos dos carros que estavam sempre de vidros fechados mas, às vezes, abriam um pouquinho para pegar a bala e jogar sempre a mesma moeda, um real.

A menina usava o dinheiro sempre da mesma maneira. Comprava um sanduíche no meio da tarde e comia sentada na calçada, perto da fonte. As migalhas ficavam para as pombas que estavam tão acostumadas à imundice da garota e do local, que comiam as migalhas do chão sujo mesmo.

Perto dali uma outra criança mais ou menos da mesma idade soltava um barquinho de papel na corrente d’água corria entre a guia e a rua. O barquinho andava pouco, às vezes entalava numa pilha de galhos e restos de folhas não varridas. Muitas das vezes também o barquinho era invadido pela sujeira d’água e afundava, a criança era paciente, fazia outro barquinho e colocava na água, com a esperança de que ele chegaria, seco, ainda parecendo um barquinho e ainda sendo de papel, no bueiro.

Ao fim daquela tarde houve uma enchente no mesmo local e o menino, inchado de água e com hematomas pelas batidas que deu contra objetos carregados pela corrente, flutuou morto até o córrego mais próximo.

Veio a noite.

Clima de medo no Pena de Vidro!

Aqui no Brasil a coisa ta chegando de leve, só tem uma leizinha até agora que diz que eu não posso chamar o LU*A de Filho da Pátria aqui. Não posso dizer que a Mar*a é a sexóloga que fud* São Paulo, nem que o Alck*in é o picolé de xuxú mais gostoso da região Sudeste...

Mas tudo bem, ainda tá leve. Como eu disse no post anterior, não posso falar muito alto sobre o Holoconto, mas também tudo bem.

Queria chegar aqui se você lê inglês.


E no resuminho abaixo se você não lê, afinal em português a gente só tem resumo mesmo.
VOCÊ PODE SER PRESO POR POSTAR EM BLOGS.
DESDE 2003, 64 PESSOAS FORAM PRESAS POR BLOGAR.
O NÚMERO DE BLOGUEIROS PRESOS EM 2007 FOI 3X MAIOR QUE EM 2006...

SE CONTINUAR ASSIM ESSE ANO EU SOU ARRASTADO... (do inglês: arrested)

como disseram uma vez nomaravilhoso filme preto e branco moderno:
Good night, and good luck.

Não direi nada.

Sobre este assunto nunca disse nada
Não estou dizendo nada.
À parte disso, tenho em mim toda a vergonha do mundo.

FOLHA ONLINE:

O banqueiro (Dani Anta tá gente?) disse que é inocente e classificou como "superficiais" as evidências reunidas contra ele no processo. "São acusações totalmente infundadas. Estou convicto de minha inocência", declarou.
[...]
Dantas foi solto por decisão do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes, que concedeu habeas corpus por considerar sua prisão "desnecessária". Cerca de 10 horas depois, a Justiça Federal em São Paulo decretou nova prisão do banqueiro, desta vez preventiva, por corrupção ativa.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

O Fato é que Holocausto Vende

Tenho que tomar um pouco de cuidado, posso ser preso por este post. No mínimo meu blog será retirado do ar, se isso chegar às mãos da Mídia. (O M maiúsculo se refere à Indústria da Mídia, aquela que segue padrões pré-estabelecidos por algum Big Brother que eu não sei quem é).
Parece brincadeira, mas existe uma lei em vários países do mundo (não sei ainda se rola no Brasil, mas já tentaram fazer rolar) que PROIBE qualquer um de ser a favor do revisionismo e duvidar da existência ou da importância do Holocausto.

Há exagero dos dois lados da história. Os extermicionistas (denominação sarcástica dos que apoiam a idéia de que houve holocausto exatamente como está no livro de história do colégio) dizem que 6.000.000 de judeus foram mortos, que houve muitos campos de concentração, que Hitler era um demoniozinho travestido de gente, frustrado porque não entrou na escola de arte e completamente pirado ou cruel.
Já os revisionistas (os que negam o holocausto) dizem que morreram NO MÁXIMO 1.500.000 judeus, que o que chamam de campos de concentração é uma completa e (isso parece verdade) inexplicável farsa, que Hitler foi o cara que conseguiu levantar a nação e fazer a população viver ligeiramente melhor. Segundo os revisionistas, o Holocáusto (ou HOLOCONTO) é a mentira do século. (Para mim a mentira do século é aquela brincadeira do "grande salto para a humanidade", sabe?).

O ponto que quero abordar aqui não é a veracidade de qualquer uma das duas versões, embora eu tenha fortes tendências à acreditar mais, bem mais, nos revisionistas. Não tenho base histórica e isso acontee por um motivo bobo, concordo com os revisionistas porque eles têm mais fundamento e citam mais fontes que meu livro de História!

O ponto que quero abordar aqui é HOLOCAUSTO VENDE.
Todo ano são lançadas Coleções, Revistas, Jornais, DVDs, Séries de Televisão e o pênis elevado à quarta potência (o caralho à quatro) sobre nazismo. E o que surpreende é que, apesar de todos os documentários mostrarem basicamente um rapaz de bigodinho com o braço esticado e umas pilhas de bonecos (ou cadáveres) esqueléticos em buracos, todas as coleções vendem!
É hora de começarmos a pensar...

Muito mais gente, mas muito mais gente mesmo, morre de fome na África hoje. Já que é pra se preocupar om o que acontece na PQP, nos preocupemos com uma PQP atual.
Sabe o que é divertido de lamentar o Holoconto? Ninguém mais pode fazer nada, é só reclamar mesmo, pode se fazer isso do sofá de casa, comento amendoins torrados.
Um povo morre na guerra do Iraque, uma turma por ditaduras pelo mundo, tudo nas PQPs.

E tem até uns morrendo aqui pertinho dentro das nossas fronteiras!
Sabe porque ninguém fica sabendo? Porque não há uma indústria interessada em divulgar.
Não há um dos povos mais ricos do mundo querendo publicidade sobre isso, como há sobre uma desgraça que, se existiu, foi parcialmente.

É... Holocausto vende...
Procure saber mais, há bastante coisa na internet.
Mas não esquece de quem tá morrendo perto de você ok?
De uma próxima vez, prometo citar números e fontes, mas está tudo nos primeiros resultados do Google para "farsa holocausto".

Até menos, se isso aqui continuar no ar.