(Sim, sei, vocês não sabem de que estou falando porque a beleza desapareceu há muito tempo. Ela desapareceu sob a superfície do barulho - barulho das palavras, barulho dos carros, barulho da música - no qual vivemos constantemente. Está submersa como a Atlântida. Dela só restou uma palavra cujo sentido é a cada ano menos inteligível.)
[Milan Kundera]

quarta-feira, 3 de março de 2010

Literas Duras


Ela vem dos fundos das veias
Ela mora nas línguas cansadas
E nas mãos doloridas.
Ela respira o ar parado do tempo
E ela corre no redemoinhos das eras

Se sustenta dos olhos de homens
Se equilibra nas ansias e angústias
Perpetua-se no sofrimento e na dor
Eleva-se nas vitórias cantadas

Ela se esconde atrás de monumentos
Atrás de imortais heróis protetores.
E subexiste silenciosa e fria
Num mundo sem dor e sem sentido.

Ela chora, e ri, e geme, e grita
Ela dorme e acorda, e implora, e urra
Ela avança e retrocede e atira e perfura
Ela abençoa e assusta, e mata e cura.
Ela lentamente entra entre as alturas
Ela falsamente finge as sepulturas
Ela tece vagarosamente as tecituras
E nunca diz seu nome, literas-duras.

Homenagem a José Mindlin


Teus dez anos não vieram
Vieram os anos que você juntou
Das páginas da tua vida
Embora saibamos pouco
Sabemos das páginas lidas
Que você uniu e montou.
Foi quase um século de vida,
Muitos mais anos de histórias,
Nas linhas de uma vida lida,
Deixou em nós tua memória.
Tua imensa coleção,
Vem a nós, em luz, agora,
Vem ao nosso coração,
Onde o amor pelas Letras mora.
Irmão dos livros,
Médico de obras,
Dono de amigos,
Mestre de agoras.
Agradecemos de alma,
De coração, de verdade,
O presente da tua vida,
À nossa Universidade.

José Mindlin, o Imortal,
Que de imortais cuidou tanto,
Mindlin, universal.
José, o Brasiliano.