(Sim, sei, vocês não sabem de que estou falando porque a beleza desapareceu há muito tempo. Ela desapareceu sob a superfície do barulho - barulho das palavras, barulho dos carros, barulho da música - no qual vivemos constantemente. Está submersa como a Atlântida. Dela só restou uma palavra cujo sentido é a cada ano menos inteligível.)
[Milan Kundera]

domingo, 19 de abril de 2009

Soneto CXLV

[O Mestre dos Mestres dos Mestres... Shakespeare]


Those lips that Love's own hand did make,
Breathed forth the sound that said 'I hate',
To me that languish'd for her sake:
But when she saw my woeful state,
Straight in her heart did mercy come,
Chiding that tongue that ever sweet
Was us'd in giving gentle doom;
And taught it thus anew to greet;
'I hate' she alter'd with an end,
That followed it as gentle day,
Doth follow night, who like a fiend
From heaven to hell is flown away.
 'I hate', from hate away she threw,
 And sav'd my life, saying 'not you'.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Beterralismo - uma dieta ideológica

Vivemos, nós, jovens, hoje, uma intensa crise de valores. Não temos uma inquisição, um nazifacismo, uma União Soviética, um movimento hippie, um Garrastazu Médici. Não temos um herói, um mártir ou um líder.

Procuramos incessantemente uma idéia pela qual valha lutar, não por menos tantos aderem a torcidas organizadas, torcem o dia todo, em pay-per-view, por uma pessoa enclausurada numa casa vigiada por câmeras, escrevem muito sobre nada (como eu).

E não é por menos que transformam opções sexuais e dietas alimentares – guardadas as devidas proporções – em ideologias de vida. Sobre as opções sexuais que outro fale, já adquiro problemas diariamente por opinar sobre coisas muito menos polêmicas. Sobre o beterralismo (lismo sendo sufixo relativo à ideologia de vida), falo eu.

Não faz muito tempo que o fantasma das folhas assombra meus sonhos, penetra por entre meus momentos de descanso e vem sussurrar: “Escreva algo, eles estão me utilizando em vão”. Canta, ó folha, dos rebeldes sem causa/a dieta ideológica, que, tormenta aos normais,/verde no prato, lançou mil fortes imagens/obtusas e dolorosas aos meus olhos,/que, involuntariamente, as viram...

Não é nada contra a dieta, papai é vegeta. Mas não dá pra incluir sorrateiramente entre uma e outra foto de festas, baladinhas e passeios com a turma, um porco surpresa. Quando o coração está psicologicamente preparado e quer ver as coisas, a gente vai atrás. Mas um cadaverzinho camarada não vale.

Quer ser homossexual? Hetero? Coma entre quatro paredes. Quer ser vegetariano? Carnívoro voraz? Seja-o, na sua boca e para quem perguntar. Não faça da sua opção a do mundo, numa coisa todos concordamos, democracia pode ser ruim, mas é o que temos de melhor. Se ao animal dói morrer, não é crime matá-lo. Matávamos antes de sapiens, sapiens não somos e ainda matamos, só nossas cavernas foram verticalizadas, cada um tem direito a optar pelo que acha ser melhor, mais saboroso, saudável e justo. Se você fez a opção, deixe que cada um tenha a sua. Campos de soja matam como abatedouros.


segunda-feira, 6 de abril de 2009

Não vou me adaptar

Composição: Arnaldo Antunes

Eu não caibo mais
Nas roupas que eu cabia
Eu não encho mais
A casa de alegria
Os anos se passaram
Enquanto eu dormia
E quem eu queria bem
Me esquecia...

Será que eu falei
O que ninguém ouvia?
Será que eu escutei
O que ninguém dizia?
Eu não vou me adaptar
Me adaptar...

Eu não tenho mais
A cara que eu tinha
No espelho essa cara
Não é minha
Mas é que quando
Eu me toquei
Achei tão estranho
A minha barba estava
Desse tamanho...

Será que eu falei
O que ninguém dizia?
Será que eu escutei
O que ninguém ouvia?
Eu não vou me adaptar
Me adaptar...

Não vou!
Me adaptar! Me adaptar!
Não vou! Me adaptar!
Não vou! Me adaptar!...

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Língua na boca

Duas rosas voando pra lua.

Um toureiro beijando o animal.

Mamilo excitado.

Vergonha no palco.

Rosto de bêbado.

Marca de tapa.

Olho de insone.

Sangue de vivo.

Pernilongo morto.

Brasa.

Proibido.

Pecado.

Maçã.

Anjo caído.

Correção.

Lingerie.

Morango.

Papai Noel.

Mc Donald.

Melancia.

Cortina da Broadway.

Batom.

Queimadura.

Pimenta.

Desejo.

Inconsciente

Mundo vermelho.