(Sim, sei, vocês não sabem de que estou falando porque a beleza desapareceu há muito tempo. Ela desapareceu sob a superfície do barulho - barulho das palavras, barulho dos carros, barulho da música - no qual vivemos constantemente. Está submersa como a Atlântida. Dela só restou uma palavra cujo sentido é a cada ano menos inteligível.)
[Milan Kundera]

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Sempre

Eu escuto o tempo todo:
    a língua não pode tudo.
    aquilo que gostaríamos de dizer é
               sempre
    i   n     a    t    i     n    g    í     v    e    l

Mas, mesmo gostando do silêncio
    como eu gosto.
Mesmo sabendo que há sentidos
     que só existem quando não
     se diz...
                 nada,          ainda assim

Eu quis acreditar que a língua
podia.        Tudo.

Ilusão.

São infinitas as vezes em que
   o que eu gostaria de dizer
            me               escapa e
   o que você não diz
            me               chega.
            Nítido. É
   que a língua não nos serve
          ela não se dá.

E tudo o que dizemos
    não chega à metade.

Queria que houvesse um jeito

de dizer. Te amo.

E quem ouvisse fosse
    o centro do teu peito.

Não há. Há pelo menos
teu ouvido. A ele apelo:

Diz a ela o que te digo
    faz com que ela escute
    no meio da vida

No coração da alma: Amor.