(Sim, sei, vocês não sabem de que estou falando porque a beleza desapareceu há muito tempo. Ela desapareceu sob a superfície do barulho - barulho das palavras, barulho dos carros, barulho da música - no qual vivemos constantemente. Está submersa como a Atlântida. Dela só restou uma palavra cujo sentido é a cada ano menos inteligível.)
[Milan Kundera]

sábado, 28 de novembro de 2009

Acidente no mar



"My library
Was dukedom large enough."
[The Tempest, 1. 2]

Nascia atrás de um monte um sol azul escuro e frio
E nuvens de concreto paraivam sobre o mar
Foi numa noite dessas que dentro de um navio
Pude ver com frio o mar a mim se armar
E numa onda bravia e furiosa de Netuno,
lançou-se o oceano contra minha embarcação
E tive, respirando, a impressão da morte
E na sacola ao ombro carregava o coração.

Há muito o coração fora deixado.

Um vento furioso atingiu em cheio minhalma
E eu vi num clarão um raio fúnebre
Atingiu rápido as águas e a eletricidade
Se espalhou por sobre as brumas
Como a escuridão que se lança das sombras
E é detida pela luz do sol.

Gritava furiosamente, eu.
E nada me ouvia, além do meu coração
Na sacola, guardado na sacola.

Os gritos do mar, porém, todos ouviam,
e fui noticiado no jornal:
homem morre depois de acidente no mar,
suspeita-se de suicídio.

Mas ninguém também aí ouviu meu grito
Para todos raiava um sol verde concreto.
Para todos as nuvens eram de aço
E a luz era a das televisões.

Para ninguém havia meu mar,
A fúria, o desespero, o medo.
Para ninguém havia
Tudo aquilo que eu sentia tanto.
Porque dentro de cada alma viva
Só dominava a quietude desesperada
Do desassossego.

- Com licença, eu vou descer no próximo ponto...

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