(Sim, sei, vocês não sabem de que estou falando porque a beleza desapareceu há muito tempo. Ela desapareceu sob a superfície do barulho - barulho das palavras, barulho dos carros, barulho da música - no qual vivemos constantemente. Está submersa como a Atlântida. Dela só restou uma palavra cujo sentido é a cada ano menos inteligível.)
[Milan Kundera]

terça-feira, 12 de maio de 2009

Esse é o meu país

"Este é o meu país...
Me diz, me diz
Como ser feliz em outro lugar"

Quanto orgulho desta terra de Golçalves Dias, de Guimarães Rosa, de Machado de Assis, José de Alencar, Guilherme de Almeida, Olavo Bilac, Carlos Drummond de Andrade.
Dos MC's, das favelas, dos "proibidões", dos traficantes, do Presidente Burro, dos analfabetos funcionais.

Não consigo ter nada um pouco melhor que vergonha deste lugar. Os patriotas que me perdoem, mas eu desisto de lutar. Isso aqui não tem jeito, não.

Ontem eu estava num ônibus, lendo, estudando. Saí da Cidade Universitária e ia para o metrô num local valorizado da cidade. Abriram a porta de trás para a entrada de pessoas. E aí começa o absurdo: só não paga passagem menor de poucos anos.

Dez pequenas pessoas, de sete a quinze anos, entraram no ônibus gritando e se encaminharam fazendo barulho com palavras que eu teria vergonha de pronunciar perto de alguém da minha idade, que dirá na frente de uma senhora de setenta anos, sentada no acento reservado.

Estavam drogados.
Tenho medo, tenho pena.
Mas tenho vergonha e tenho raiva.

Se esse é o meu país, abro mão. A-bro mão.
Não quero, não quero, não quero.

Desisto mesmo, cumprirei com meus deveres, voto. Voto nulo.
Pago impostos por falta de opção, me rendo aos deveres.
Não pretendo exigir os direitos para que não me impinjam o título: brasileiro.

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