(Sim, sei, vocês não sabem de que estou falando porque a beleza desapareceu há muito tempo. Ela desapareceu sob a superfície do barulho - barulho das palavras, barulho dos carros, barulho da música - no qual vivemos constantemente. Está submersa como a Atlântida. Dela só restou uma palavra cujo sentido é a cada ano menos inteligível.)
[Milan Kundera]

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Chá da tarde




Eu respirava o ar da tua boca
Você nunca notava e me perdia
E me batia e se perdia me atirava
E se atirava eu me escondia e me chorava

E a flecha embebida de veneno
Que perfurava, me furava e atravessava
Era ainda incômodo pequeno
E eu ainda me feria e porque amava

Eu perseguia tuas pegadas num terreno
De cacos de vidro ensaguentados
Mas mesmo meu temor era pequeno
O sangue era expurgar os teus pecados
Com meus pés, teu alívio ameno,
Era o vermelho a cor do ser amado

Sob um lençol de estiletes revirados
Me mexia em completo pesadelo
E teu sonho leve era um grande desespero
Para o meu interior, tão desvelado

Você já conhecia cada parte
Cada linha, cada sombra, cada pelo
E teus cílios de água viva, em meus anelos
São meus amores, os meus beijos a queimar-te.

Você me foge, e me ficam as lembranças
Queimaduras no meu corpo de criança
Cada espelho que me tem reflete meu horror
E eu me olho,
no meu banho,
vermelho,
águas de amor.

E eu me olho,
no meu banho,
vermelho,
águas de amor.

2 comentários:

Autora escondida disse...

Lindo... nossa... tô arrepiada.

Que maravilhoso!!!!!

Autora escondida disse...

Venho aqui um tempo depois reforçar o QUANTO eu gosto dessa poesia.