Eu sonhei tanto
E tantas vezes tanto
E repetidamente o mesmo sonho e tanto
Que inevitavelmente
Havia de destruí-lo por dissolução no tempo
Por escadas de mil degraus é que se sobe
Ao infinito trampolim de desespero
E se sonhando a algum lugar se chega
É ao intermédio entre a escada e o salto ornamental
Cem mil pavios queimaram num instante
Toda a fé num profeta que não veio
Toda a esperança que já disse que não tenho
Todas as preces que eu nunca recitei
As estrelas cadentes caíram
Os trevos de quatro folhas murcharam
Ou foram comidos por pulgões famintos,
Ou atropelados por solas desatentas.
Num trem elétrico abandonei o campo
Os campos
E corri pelas avenidas infestadas
De luz, de almas penadas, de mil gritos,
E desesperei por tanto tempo
Que decidi, pacientemente,
Esperar.
Esperar tanto
Mas tantas vezes tanto
E repetidamente esperar tanto
Que a espera se dissolva no infinito.
Um comentário:
lindo!
o seu ritmo é muito gostoso...
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