Era semente e te vi, raio de sol,
a bater e obrigar-me: acorda.
Abri meus olhos e te percebi melhor
Eras meu pai, meu irmão, meu amor.
Com coragem doada pela terra,
Mãe, base e fonte, me levantei.
Frente a frente você me teve,
Frente a frente você me olhou.
De cada brisa da noite senti o prazer
E a dor proibidos às plantas novas
E virgens.
Das estrelas eu vi cada segredo,
A lua me sussurrou seus versos,
A grama me contou as lendas do mundo,
As pedras, as tristezas dos homens.
Mas eu não era homem, eu era planta,
Eu era folha, caule, raiz.
E depois de cada noite de segredos,
você surgia.
Eu nunca soube o que fazer quando te via.
Se me escondia, se me mostrava,
Você me enfeitiçava, eu me perdia.
Você me vigiou, alto e altivo,
Cada passo meu, e cada abalo,
Cada crise, cada crescimento.
Lancei raízes mais profundas,
Sofri mordidas mais intensas,
Sofri as secas, as chuvas,
Os ventos e as tempestades,
Para ver depois você, minha Luz.
E devagar, com medo até,
lancei aos teus pés tudo o que tinha.
Sem confiar ou pensar na dúvida,
Doei a ti o que tinha de melhor, meu... deus.
Me fiz botão.
E tua luz não se escondeu nenhum instante,
Pois que meu botão nasceu na primavera,
Era a primeira verdade que você me ensinava.
Tua luz me deu força,
Me deu coragem,
E a terra me deu tudo o que precisei.
Nunca, nunca eu poderia tirar meus pés da terra.
Mas algo de mim, com os ventos, teria de alcançar você,
para assim te contar do meu amor.
Me dobrando e me abrindo a ti,
Me dando mais a conhecer à tua onisciência,
Abri-me em flor branca, de branco perfume puro,
E lhe roguei, aos pés, condescendência.