Há uma mania corrente de se desmerecer a palavra. Fico triste quando ouço ou leio que eram apenas palavras. Fico triste quando leio ou ouço que ele dizia coisas lindas, mas eram só palavras. Fico pensando se quem fala esse tipo de... besteira... sabe o quanto é difícil dizer coisas lindas e o quando vale algo composto apenas de palavras.
Acho que quem diz este tipo de asneira nunca leu Romeu e Julieta ou Hamlet ou Dom Casmurro ou Espumas Flutuantes ou Ciranô de Bergerac ou Coração de Tinta ou Água Viva ou Amor nos Tempos do Cólera. Acho que quem diz isso nunca leu nada que de fato valesse a força que fez para virar as páginas. Quem pensa este tipo de criancice segundo a qual as palavras são só palavras, nunca ouviu com atenção Oswaldo Montenegro, Chico Buarque, Elis Regina (que não escrevia, mas cantava coisas lindas), nem mesmo Legião Urbana e Lenini ouviu quem diz absurdos assim.
Ou, se ouviu, não merecia ter ouvidos (não falo do verbo, falo de anatomia).
Quando alguém me diz que sabe Gá, ele diz coisas lindas para mim, mas é só. Eu fico pensando se esse alguém consegue dizer coisas lindas de verdade também, ou se acha algo idiota belo o suficiente para chamar de lindo, o que também é uma possibilidade.
Quem desmerece o valor da palavra nunca deve ter ouvido falar que in princípio erat verbum, no princípio era o verbo. A palavra. Dela fez-se a Luz e as Trevas, dela se fez o Amor e o Ódio, dela se fez o mundo e o nada, dela e só dela se fez a vida e a morte. Como alguém pode pensar em usar as palavras para desmerecer palavras? É como enganar seu melhor amigo para que este deixe de sê-lo.
Fico triste que as palavras estejam sendo jogadas para o canto, esquecidas.
As músicas não têm mais palavras, as pessoas falam menos, ninguém mais sabe escrever, abreviaturas são cada vez mais utilizadas, pessoas se beijam sem se declararem, conhecem-se sem trocarem cartas e conversas longas, mandam pequenos recados pelo celular, esquecem-se que só as palavras seguram o mundo como ele é. Esquecem. Esquecem das palavras e depois dizem que são só palavras.
Utilizam impossível quando algo é difícil de mais e dizem que odeiam quando acham desagradável, pedem quase dez desculpas quando uma só seria suficiente e coalham páginas e páginas de palavras idênticas para enfatizar sua veracidade, como se dizê-las uma vez só não fosse mais suficiente.
Poetas incapazes de rimar, dizem que são livres.
Escritores que não sabem escrever, dizem-se livres da semântica.
A palavra cada vez mais é esquecida, desvalorizada, e ninguém sente saudades.
Um dia alguém irá querer dizer algo e não terá palavras para dizê-lo. Só então perceber-se-á que não eram só palavras.
Um comentário:
tambpem me irrita ouvir um "só palavras" pq pra mim elas tem sentido... mas percebi que é por isso que não deveria me sentir mal pois se para mim elas são algo, elas saão algo por causa do sentimento que eu exponho atravéz delas.... quem não faz isso pode acreditarque palavras não significam nada...
Beijinhos
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