Na sombra era fresco e você
Era leve e bonita nos meus braços
Eu te mordia a boca, e nos abraços
Eu sonhava você e me perdia.
Era verão e eu via teu contorno
Quando andávamos na grama a dar risada
E sabia no fundo dos teus olhos
Que a paixão nunca ia dar em nada.
Mas não me importava, te beijava, me perdia,
Em cada canto dos pássaros eu ia
E me lançava ao vento com você
E você voava, a rainha,
Sobre os campos, sobre as flores, sobre o ar,
E era inevitável, na tua pele
Nos teus pés, no teu seio, não me apaixonar.
Em cada gole fresco de água fria
Eu bebia tua alma para dentro
E sentia você brotar, sentia,
E teus carinhos eu lembrava com o vento
Os banhos de rio eram teu corpo
A me envolver em cada canto, pela pele,
E aquela água do rio era o teu corpo
As tuas unhas, a tua fúria que não fere.
Percebia você nos meus lençóis
Depois que você já tinha ido
E ninguém nos saberia, pois a sós
Tínhamos dado razão ao sem sentido
E o que eu ainda não sentia, ansiava
Por sentir, por perceber, por aceitar
Se eu abria meus olhos eu te via,
E ao fechar meus olhos, te sonhava.
Em cada pedaço de pão que eu mordia
Era teu beijo, que minha fome saciava
E eu se não perdia, me encontrava
E se eu te achava, jamais me perderia.
Era tudo urgente e era perfeito
Nada tinha cara de passado
Era tudo presente e contrafeito
Eu te deixava à noite no teu quarto
Mas o tempo passou, e veio a chuva
Veio março, veio o mundo, veio a vida,
E por favor, menina, por mim não te perturba
Não é que tu não fosses mais querida.
As árvores, o sol, a grama, o campo
As frutas frescas a cair na nossa mão
Era tudo perfeito, e no entanto,
Meu amor, entenda, era verão.