Gosto de mentir. Eu adoro mentiras. Adoro-as porque a verdade é sempre, ou quase, boba. Não tem muita utilidade onírica a verdade. A coisa existe e você disse que ela existe, grande. Mas se a coisa não há e você a diz, você a cria. E se for uma boa mentira, é quase material o que você cria. Porque pensando bem, você já viu, pessoalmente, a Torre Eiffel? (geralmente a resposta é não, e eu conto com ela).
Se ela fosse uma mentira, você acharia ainda assim que ela existe, que é pegável e subível. A constelação de Órion você só vê de muito longe (se você já viu, e não um monte de estrelas desalinhadas num desenho indefinível em volta das famosas Três Marias), mas mesmo assim você acreditaria se eu dissesse que há um desenho formado por estrelas no céu representando um guerreiro. E mais que isso, você acreditaria se eu dissesse que cada um desses pontos é um globo muitas vezes maior que o sol. Eu não digo porque sou uma boa pessoa, e seria muito errado dizer que cada um daqueles pontos é uma coisa grande e não uma simples gotinha de tinta fosforescente no sketch book de Deus.
Talvez você acredite
Mas foram mentiras, ou não, tão bem contadas, que você acredita. Talvez você não acredite na Cinderela, mas a sua sobrinha de três anos crê piamente. Talvez você, como eu, sim, inocente, acredite
Mentiras bem inventadas constroem mundos novos, coisas novas, pessoas; mentiras podem, pasmem, suscitar sentimentos (é, senhores, algo que não existe pode fazer sentir), ações, podem suscitar suicídios (Wether) e assassinatos e traições.
Uma mentira bem escrita pode dar fome, tédio, tesão. Pode tirar ou dar sono. Uma mentira muito bem criada pode dar medo. E outras podem aliviar qualquer mal estar.
Basta que as palavras, as cores ou as notas sejam absolutamente adequadas.
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