(Finais de 2007)
Era como se não
tivesse sido jamais
(O. Montenegro)
Os beijos, as cartas, as canções
Era como se nunca tivessem existido
E o amor que devotávamos a nós
Passou assim, como que despercebido.
A vontade, a sede, a ânsia, a devoção,
Cada gosta indefinida de paixão
O tremor, a coragem, o agarrar das nossas mãos
“Nunca houve”, sussurra o coração.
E a energia que movia nossas noites e manhãs
Cessou, quando quiserdes, de existir.
Mas também cessou meu mais sincero choro,
E, rimando, meu mais sincero rir.
E no passar do tempo deixei ir
Toda a magia que antes nos sentíamos
E se ia toda minha alegria,
Com todos nossos beijos, nossos risos.
E um dia acordei aliviado,
Respirei e deixei a vida entrar.
Era morto eu e o passado
Quando me atrevi a nos lembrar.
Era morto cada nada e cada isso
Cada pouco e cada sempre de nós dois
E como Cristo que do pútrido nasceu
O nosso amor renascerá depois.
Mas enquanto não é assim,
Enquanto tenho de esperar,
Que nada seja como foi.
Ou que seja como se não há.
Enquanto tenho que ver passar o tempo,
E esquecer o que já te é esquecido,
Que todos os teus risos passem sérios,
E o meu tremor passe, assim, despercebido.
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