(Sim, sei, vocês não sabem de que estou falando porque a beleza desapareceu há muito tempo. Ela desapareceu sob a superfície do barulho - barulho das palavras, barulho dos carros, barulho da música - no qual vivemos constantemente. Está submersa como a Atlântida. Dela só restou uma palavra cujo sentido é a cada ano menos inteligível.)
[Milan Kundera]

terça-feira, 30 de junho de 2009

gaiola



Tenho em mim mil animais
que gritam e se debatem contra grandes e prisões
mil feras, mil quimeras imortais
que se esfregam contra o chão cinza concreto de paixões

dentro de mim há mil leões, há mil panteras
dentro de mim há todos os instintos e todas as fúrias
tudo o que mata, fere, arde e dói.

Dez facas por pixel viradas para fora,
viradas para a carne, da coluna para a carne
e que perfuram e me fazem gritar para dentro
acordando as imortais lembranças para rugir!

Eu tenho medo do escuro, porque nele
todas as feras de dentro do meu corpo
olham-se no espelho da minha pálpebra
e eu as vejo, como em pesadelos de morfina.

Alguma dança, alguma dança sob a lua
com pedras e cristais, e brasas
uma cama de brasas para me receber
eu quero deitar e dormir.

E quero que meus monstros me deixem em paz
e não tentem rugir e gritar, porque cada grito me acorda
cada gemido de dor de um deles é um gemido de dor em mim
que eu calo, por educação e civilidade. E porque não podem descobrir
nunca
que há monstros dentro de mim.

Um comentário:

Autora escondida disse...

Eu tenho medo do seu jeito incrível de escrever... me espanta... assim como fico espantada ao ler Clarice.
Beijo