(Sim, sei, vocês não sabem de que estou falando porque a beleza desapareceu há muito tempo. Ela desapareceu sob a superfície do barulho - barulho das palavras, barulho dos carros, barulho da música - no qual vivemos constantemente. Está submersa como a Atlântida. Dela só restou uma palavra cujo sentido é a cada ano menos inteligível.)
[Milan Kundera]

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Flor in vitro...



Fico pensando – sem grande necessidade ou eficácia, depois que o efeito já se sobrepôs à causa – se deveria ter-me dado a liberdade de sonhar com você. Haja intimidade entende? 

Eu não sei se essa intimidade existe e se você gasta os minutos da sua preciosa noite – não os de sonhos, necessariamente, mas aqueles que vêm logo antes – comigo. Acho que não: eu diria que não, caso fosse obrigado a responder. Porque não parece ser assim. 

Da maneira que gosto, e agora confesso minha culpa, de me iludir, provavelmente não, você não pensa em mim e menos ainda nesses minutos pré-sono, quando tantos outros problemas importantes devem surgir e eu devo ficar logo ali, entre o lodo dos queridos. 

Não é recriminar-te, veja. É só uma constatação interna que teve, tal espinha, de sair. Mas é uma constatação interna de qualquer maneira. Imagem de respiro, no espelho, alada. Branca de voir (pronuncia-se voar). 

Me deixei os olhos presos nos teus detalhes, vê? Nos que não sei se você repara, mas os que eu gosto. Não posso deixar meus olhos lá presos verdadeiramente nos reflexos espelhados: além de ilusórios, todo reflexo pertence a alguém, e todos perceberiam, pois que meu olhar seria visto do espelho, por quem quer que estivesse às minhas costas.

 

Mas que seja, pétala, que seja. Dei-me a liberdade que não pensei poder e é assim, sonho quando quero e quando vem, aceito quando acordo e quando vai. Como espero a luz acesa, para ver os reflexos planos e guardados, flor in vitro.

2 comentários:

Erika disse...

magnifico!

Autora escondida disse...

Nossa... não sei o que dizer. Como não visitei seu blog antes? =P