Mordi copo de cristal
Achando que era a lua
E achando que estava nua
E que era noite de Natal
Bebi do vinho branco
Bebi da via-láctea
E a lembrança asmática
Fez-me sentir-me mal.
Mas você não viu os cacos na boca
Achou que meus gritos eram de louca
Achou que o grave da voz era rouca
E não percebeu que eu beijei tua roupa
E não percebeu que eu cheirei tua boca
Porque o teu cheiro estava na pele, na perna, na porta
Teu cheiro estava tanto em cada poro
Que eu te buscando era você, respirar.
O meu choro, a tua saliva, era você
Era você demais pra notar eu
E que eu não queria te dar
O prazer quebrado, sórdido, ateu
De me ver comer, quebrar.
Não pode ver meu vestido branco,
Só no dia do casamento,
Bolo de andares e andaime, vendaval
O relógio parou às sete, e você.
Um menino veio brincar, não vi.
Os ratos circulam na platéia, baratas.
Você bebeu do vinho tinto, na taça de vidro
Que eu mordi e enchi com vida, o vinho de Deus.
Sob a luz de quatro sóis, cai,
Sobre a sombra de quatro corpos, cai.
Sobre quatro sombras de alma, cai
Sob quatro focos de luz, teus dentes
Sobre quatro pares de olhos, sorriu
E das quatro vezes dez dedos, que tentaram te agarrar,
Sete, sete vezes você sumiu, das minhas garras de plástico.
Os sons das flautas dos anjos ouvi,
Caindo do céu e quebrando, em mil cacos de vidro.