terça-feira, 24 de fevereiro de 2009
A vida brilha lá fora!
sábado, 14 de fevereiro de 2009
Deslapidada
"Como pode, sem ensino
A gaivota pequenina,
Tão menina, voar pela primeira vez?"
(Oswaldo Montenegro)
Quero te ver deslapidada
Se eu fui o seu primeiro qualquer vinda é volta
Não me vem bater na porta
Dizendo pra te ensinar
Como é que se segue em frente.
Sapato de salto, rímel no olhar,
Batom no beijo e esquece da gente.
Se o primeiro beijo foi o meu, a primeira dança
Se antes de mim você ainda era criança,
Não me pede pra ensinar o teu caminho.
Chega o dia, chega a hora, em que até o ovo deixa o ninho.
E não me pede, águia, pra ensinar-te a ser um passarinho.
Não cansei de ti, não entenda mal.
É só que toda primavera tem o seu final.
Quando todos os botões conseguiram já desabrochar,
É hora, é a última hora de deixar.
Vai viver por si, flor (da idade),
Encontra outro alguém pra ser feliz.
Não cansei dos lábios, dos teus olhos,
Não cansei do teu corpo e da risada.
É que o tempo muda e eu te amo diamante,
Não assim, como que em joia transformada.
Te amo pedra bruta e sempre quero
Ver-te natural, deslapidada.
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009
Crônica da minha morte anunciada.
Serei estátua branca à luz da lua, para sempre
Observando mundo e estátuas outras rindo.
Observando águas ácidas caindo.
E observando placidezes anuviadas.
Agasalhado pela dó do povo que admira
Em transe, a estátua que o fita, imóvel
E quando cair chuva e pombas mortas aos meus pés,
Não moverei meus olhos, não poderei mais com as pedras.
E quando a luz do sol bater furiosa sobre mim
Indefeso me deixarei queimar. Câncer na tez.
E depois, sem ainda poder me defender,
Esperarei meu fim sem nunca terminar,
Eu nunca, eu jamais terminarei. Eu sou o começo.
Mas o começo pode ser interrompido, facilmente
Por um sopro, pela brisa, pela morte
E quando um dia, feliz e finalmente, eu for interrompido,
Ah, me considerarei começo-estátua de sorte.
Enquanto ela não vem, o sopro, a brisa, a morte,
Espero sobrevivo sem ser o bom poeta
O bom amigo, o bem-amado.
Ah, não quero ser abandonado à minha sorte.
Eu não só forte como pareço, não sou forte.
Quero ser interrompido pela minha
Desanunciada morte.
Não essa morte dos caixões,
Mas a outra, a centrífuga,
Que nos faz tolerar sem esperança.