(Sim, sei, vocês não sabem de que estou falando porque a beleza desapareceu há muito tempo. Ela desapareceu sob a superfície do barulho - barulho das palavras, barulho dos carros, barulho da música - no qual vivemos constantemente. Está submersa como a Atlântida. Dela só restou uma palavra cujo sentido é a cada ano menos inteligível.)
[Milan Kundera]

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Vênus de Mim

Vênus de Milo ajudada pelo ângulo da luz,
Pétala de branca flor, acariciada pelo orvalho,
Garoa fina sobre um beijo apaixonado,
Mão que segue com medo a quem conduz.
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Empresta-me por um só instante a alma
Num beijo encantador de dois instantes
Por um momento perde toda a tua calma
E te doa nos meus braços como amante

Num piscar de olhos, que se acabe.
Mas enquanto o olho pisca seja minha
Dá-me em despedida o beijo da minha vida
E depois se vá sozinha, e só, se cale.
(para me matar de dor).

Mas antes de ir seja só minha,
Antes de ir me dá teu ar,
Antes de ir respira em mim,
Antes de decidir estar sozinha.

Depois, se você não mais quiser teu beijo meu,
E preferir ser feliz longe daqui...

Mas ai, se você quiser ficar.
Vai que resolve nos fazer felizes
Você é a mulher bela que eu fiquei a procurar
O baú sem segredos, a esfinge.

Ah, Vênus de lis,

Vai ser a rosa mais branca e serenada de um jardim,
A musa bela dos poemas que não fiz,
A ausência de rasuras para mim.

Mas só se termina um beijo em um lamento,
E você será a minha vida tua,
Somente em um instante, por um momento,
Numa noite de garoas sob a lua.