Vivemos, nós, jovens, hoje, uma intensa crise de valores. Não temos uma inquisição, um nazifacismo, uma União Soviética, um movimento hippie, um Garrastazu Médici. Não temos um herói, um mártir ou um líder.
Procuramos incessantemente uma idéia pela qual valha lutar, não por menos tantos aderem a torcidas organizadas, torcem o dia todo, em pay-per-view, por uma pessoa enclausurada numa casa vigiada por câmeras, escrevem muito sobre nada (como eu).
E não é por menos que transformam opções sexuais e dietas alimentares – guardadas as devidas proporções – em ideologias de vida. Sobre as opções sexuais que outro fale, já adquiro problemas diariamente por opinar sobre coisas muito menos polêmicas. Sobre o beterralismo (lismo sendo sufixo relativo à ideologia de vida), falo eu.
Não faz muito tempo que o fantasma das folhas assombra meus sonhos, penetra por entre meus momentos de descanso e vem sussurrar: “Escreva algo, eles estão me utilizando em vão”. Canta, ó folha, dos rebeldes sem causa/a dieta ideológica, que, tormenta aos normais,/verde no prato, lançou mil fortes imagens/obtusas e dolorosas aos meus olhos,/que, involuntariamente, as viram...
Não é nada contra a dieta, papai é vegeta. Mas não dá pra incluir sorrateiramente entre uma e outra foto de festas, baladinhas e passeios com a turma, um porco surpresa. Quando o coração está psicologicamente preparado e quer ver as coisas, a gente vai atrás. Mas um cadaverzinho camarada não vale.
Quer ser homossexual? Hetero? Coma entre quatro paredes. Quer ser vegetariano? Carnívoro voraz? Seja-o, na sua boca e para quem perguntar. Não faça da sua opção a do mundo, numa coisa todos concordamos, democracia pode ser ruim, mas é o que temos de melhor. Se ao animal dói morrer, não é crime matá-lo. Matávamos antes de sapiens, sapiens não somos e ainda matamos, só nossas cavernas foram verticalizadas, cada um tem direito a optar pelo que acha ser melhor, mais saboroso, saudável e justo. Se você fez a opção, deixe que cada um tenha a sua. Campos de soja matam como abatedouros.